"O pensar se manifesta na palavra; A Palavra se transforma em ato; o ato se desenvolve em hábito; e o hábito endurece como caráter." - Buda

"Nós somos as sondas por meio das quais a existência conhece a si mesma."

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Blow bangs e cluster bombs: a crueldade de homens e americanos


Robert Jensen
School of Journalism
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copyright Robert Jensen 2002


Durante a Guerra do Golfo, militares americanos mantinham o controle do fluxo de informações, para garantir que o noticiário que já era tímidamente pequeno, não tivesse espaço algum para movimentar-se. Copias tinham de ser processadas por censores militares, alegadamente por razões de segurança, apesar que os principais temores de políticos e oficiais militares a respeito dos jornalistas sempre eram politicos e não militares.

Um dos fatos inicialmente censurados da cobertura de um jornalista durante a guerra era que no USS Jonh F. Kennedy, pilotos assistiam filmes pornográficos antes de missões de vôo, aparentemente para ajudá-los a ficarem excitados para jogar bombas. O censor disse ao jornalista que os fatos eram embaraçosos demais para serem publicados.

Embaraçoso, mas instrutivo: Pornografia e guerra não são a mesma atividade, mas a misoginia massificada por mídia da pornografia moderna, e a brutalidade high-tech da guerra moderna dividem uma crueldade em comum. Homem coloca fita no video cassete. Homem salta dentro de jato. Homem ejacula nos rostos de mulheres. Bombas caem no chão. Agressão é normalizada.

Minha vida politica nas últimas dezenas de anos foi ancorada em resistência a pornografia de homens e as guerras dos EUA, o conflito entre patriarcal e império. Isto quer dizer que minha vida foi saturada com imagens de crueldade, do intímo ao global.

Blow bangs

"Blow Bang#4" é uma fita de video feita e vendida nos EUA. É uma fita de video que homens americanos ( e Brasileiros também) observam e masturbam-se. Ela consiste em oito diferentes cenas em que uma mulher ajoelha-se no meio de um grupo de três a oito homens e executa sexo oral nelas. No fim de cada cena, cada um dos homens ejacula no rosto da mulher ou em sua boca. A cópia do vídeo descreve-o desta maneira: "Pequenas putas sujas rodeadas por paus duros e latejantes -- e elas gostam."

Em uma destas cenas, uma jovem mulher vestida como cheerleader é rodeada por seis homens. Por aproximadamente sete minutos, "Dynamite" (o nome que ela usa na fita) metódicamente se move de homem para homem, enquanto eles providenciam insultos como, "sua pequena puta cheerleader."

"-- e elas gostam."

Por outro minuto e meio, ela senta de cabeça para baixo em uma colcha, sua cabeça balançando sobre a beirada, enquanto homens impalam sua boca, fazendo com que ela engasgue.

"-- e elas gostam."

Ela ainda mantém a pose de bad girl até o fim. "Você gosta de gozar na minha boquinha linda, não," ela diz, conforme eles ejaculam em seu rosto e em sua boca, pelos últimos dois minutos da cena. Cinco homens terminaram, o sexto surge. Enquanto ela espera ele ejacular em sua face, agora coberta com semem, ela fecha seus olhos fortemente e faz uma careta. Por um momento sua face muda; é impossível saber exatamente o que ela está sentindo, mas parece que ela irá começar a chorar.

"-- e elas gostam."

Após a ejaculação do último homem, ela recupera a compostura e sorri. O narrador fora de cena dá a ela o seu pompom, que ela estava segurando no ínicio da fita e diz, "Aqui está o seu pequeno esfregão de porra, querida -- limpe-se." Ela enterra seu rosto no pompom. A cena desaparece, e ela se foi.

Eu assisti "Blow Bang#4 como parte de um projeto para analizar o conteúdo dos vídeos pornográficos contemporâneos. Após vários meses, a maioria das imagens desses vídeos haviam sumido de minha mente. A única imagem que eu não conseguia me livrar era a da face de Dynamite no momento antes do Homem#6 ejacular em sua face.

"Blow Bang#4" é um de 11,000 novos vídeos hardcore lançados em 2001, uma de 720 milhões de fitas alugadas em um país onde o total do aluguel e venda de vídeos pornográficos totaliza aproximadamente 4 bilhões anuais. Quando eu assisti #4, haviam seis fitas na série. Dez meses depois, enquanto eu escrevo isso, existem 15.

Por que tão bem sucedido? "Se você ama ver uma garota chupando um bando de paus ao mesmo tempo, esta é a série para você," diz um crítico. " O trabalho de câmera é excelente."

Cluster Bombs

A CBU-87, ou cluster bomb, é feita nos EUA. É uma bomba que pilotos americanos jogaram de aviões americanos sobre o Sudoeste da Ásia, Iraque, Yugoslávia e Afeganistão.

Cada cluster bomb contém 202 bombas menores (BLU-97/B). A CNU-87 é uma munição de efeito combinado; cada mini-bomba, tem um efeito anti-tanque e anti-pessoal, assim como capacidade incendiária. As mini-bombas de cada CBU-87 são típicamente distribuídas em uma área de aproximadamente 100 x 50 metros, apesar que a área exata de aterrisagem das mini-bombas é difícil de controlar.

Conforme das mini-bombas do tamanho de uma latinha de refrigerante caem, uma mola empurra um "paraquedas" de nylon ( chamado de desacelerador), que infla para estabilizar e armar as mini-bombas. O BLU-97 é armazenado em uma maleta de metal com um anel de zircônio incendiário. A maleta é feita de aço com pequenas marcas, desenhado para quebrar em aproximadamente 300 fragmentos pré-formados de 30 gramas na detonação do explosivo interno. Os fragmentos viajam em velocidades altamente rápidas em todas as direções, o primeiro efeito anti-pessoal da arma. Anti-pessoal, significa que os pedaços de aço irão retalhar qualquer um na vizinhança.

O efeito anti-blindado primário vem de um projétil de cobre derretido. Se a mini-bomba foi propriamente orientada, a carga viaja a 2,570 pés por segundo e pode penetrar os veículos mais blindados. O anel de zircônio dispersa pequenos fragmentos incendiários. A carga tem a habilidade de penetrar 12,5 cm de blindagem. Os fragmentos da pequena maleta de aço também são poderosos o suficiente para danificar blindagem leve e caminhões até 50 pés, e causar ferimentos humanos em até 500 pés. O anel incendiário pode causar incêndio em qualquer material combustível.

Human Rights Watch, a fonte dessa informação, convocou um moratório ( suspensão por tempo indefinido ) do uso das cluster bombs, dado as inaceitáveis baixas civis, que a arma causa. Estas baixas vem parcialmente em combate, já que as munições possuem uma alta taxa de disperção e não podem ser direcionadas precisamente, fazendo delas especialmente perigosas quando usadas próximas a áreas civis.

Mas ainda mais mortal é a maneira em que as cluster bombs não funcionam. A taxa oficial de falha de detonação para as mini-bombas é de 5 a 7 % , apesar que alguns especialistas anti-bombas estimam até 20% de falha. Isso significa que em cada cluster bomb, de 10 à 40 não explodem com contato, tornando-se minas terrestres que podem ser disparadas por simples toque. Human Rights Watch estimam que mais de 1,600 civis do Kuwait e Iraque, foram mortos, e outros 2,500 feridos, pelas estimas 1,2 milhões de bombas não detonadas após a guerra do Golfo da Pérsia em 1991.

O que isso significa em termos reais? Significa que o pai de Abdul Naim está morto. Os campos da família na vila de Rabat, meia hora de Herat na parte oeste do Afeganistão, foram semeados com cluster bombs, algumas das 1,150 oficialmente usadas no Afeganistão. Alguns dos fazendeiros tentaram limpar seus campos; alguns morreram tentando. Naim disse a um reporter , que no auge do desespero, seu pai finalemnte decidiu tentar. Usando uma pá, o fazendeiro conseguiu jogar três bombas longe com sucesso. A quarta detonou. O estilhaço atingiu-o na garganta. [Suzanne Goldenberg, "Long after the air raids, bomblets bring more death," Guardian (UK), January 28, 2002, p. 12.]

Ou considere o testemunho de um garoto de 13 anos no Kosovo. "Eu saí com meus primos para ver o local que NATO bombardeou. Enquanto andávamos eu vi algo amarelo -- alguém nos disse que era uma cluster bomb. Um de nós pegou e colocou em um poço. Nada aconteceu... Começamos a falar sobre pegar a bomba para brincar com ela e então a pus em algum lugar e ela explodiu. O garoto perto de mim morreu e eu fui arremessado um metro no ar. O garoto que morreu tinha 14 -- ele teve sua cabeça arrancada." O garoto de 13 anos sobreviveu mas teve ambas as pernas amputadas. [Richard Norton-Taylor, "Cluster Bombs: The Hidden Toll," Manchester Guardian (UK), August 2, 2000.]

Por que o exército americano continua a usar cluster bombs? De acorcom com o Gen. Richard Myers, presidente da Junta de Chefes de Gabinete: "Nós apenas usamos munições de cluster quando elas são a arma mais eficiente para o alvo em questão."

Patriarca e Império

O que blow bangs e cluster bombs tem em comum? Na superfície, muito pouco; pornografia e guerra são atividades diferentes com diferentes conseguencias. Em agrupálas eu não estou fazendo um argumento exagerado sobre a conexão entre o patriarcal e o império.

Mas eu posso dizer isso: Para ser efeciente, a pornografia marqueteada em massa e a guerra moderna requerem crueldade e desprezo. A pornografia que eu assisti no verão de 2001 foi sobre a crueldade de homens e o desprezo dos homens pelas mulheres. A guerra que eu assisti no outono de 2001 foi sobre a crueldade dos americanos e o desprezo dos americanos por pessoas em outras partes do mundo.

Embora eu estivesse envolvido em trabalho político e intelectual com ambos os assuntos por mais de uma década , eu fiquei surpreso com o quão forte foram minhas reações emocionais a tanto a pornografia, quanto a guerra, e quão similar ambas foram -- o quão profunda era a tristeza.

Pornografia e guerra

Pornografia e as guerras do Império americano dependem para seu sucesso que seres humanos sejam reduzidos a menos que complemente humanos -- no caso da pornografia para prover prazer para homens, e na guerra para proteger o conforto dos americanos. Mulheres podem ser denegridas para prover prazer sexual para homens. Aluguns milhares de cidadãos afegães podem ser sacrificados para proteger a afluência dos americanos.

Eu sou contra pornografia e contra as guerras do império. Isto confunde alguns de meus aliados de esquerda, que também se opôem a guerra mas acham que pornografia é liberdade sexual e então se perguntam se eu sou um conservador disfarçado. Confunde também alguns de meus oponentes de direito , que adoram a guerra mas acham que todos os esquerdistas são pró-pornografia, e se perguntam também se eu sou um conservador disfarçado.

Eu não sou conservador, disfarçado ou qualquer coisa. Eu simplesmente não aceito o argumento liberal/libertário que pornografia e sobre liberdade sexual, tão pouco a sabedoria convencional que os EUA vão a guerra por liberdade.