"O pensar se manifesta na palavra; A Palavra se transforma em ato; o ato se desenvolve em hábito; e o hábito endurece como caráter." - Buda

"Nós somos as sondas por meio das quais a existência conhece a si mesma."

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A Arte de Educar




Educar: Desenvolver as faculdades físicas, morais e intelectuais de. Instruir. Domesticar, adestrar. Aclimar. (In Dicionário Prático Ilustrado, Lello & Irmão Editores, 1977).

                Como esta definição que tomamos emprestada do dicionário nos informa, educar possui características tanto de desenvolvimento pessoal quanto de adestramento e conformação a normas vigentes. Um conceito que engloba tanto os atos elementares de ensinar um infante a andar e falar, quanto o ato de ensinar as mais complexas e abstratas teorias na academia.
                Por um lado, o conceito nos informa tanto do ato de desenvolver as faculdades físicas, morais e intelectuais de um objeto (o aprendiz) quanto presume algumas características desejáveis de um bom educador: responsabilidade para com o aprendiz, paciência, pois educar demanda tempo por não ser um acontecimento instantâneo, amor, no sentido fraterno da palavra, de possuir empatia pelo próximo e importar-se com o progresso de seu aprendizado. Pode-se levar em consideração que como o fluxo do tempo é dinâmico, que um processo incluso no tempo necessariamente também é dinâmico, logo o ato de educar não é exceção. Educar então, se considerado ao longo do tempo, é um processo flexível e dinâmico, devendo possuir a capacidade de adaptação as constantes mudanças de objeto de aprendizado, as diferentes ênfases, capacidades e disposições de diferentes aprendizes.
                Para tal, além das características já mencionadas é necessário que o educador seja tão flexível quanto o próprio processo de educar.  O educador precisa se converter em aprendiz de tempos em tempos e habilmente retornar ao papel de educador quando necessário. O sábio mestre precisa ser o eterno aluno. A aquele que trilha este caminho, uma capacidade perpétua de vislumbre, e de se assombrar com o novo e com o universo são indispensáveis. Pois sem o motivador psicológico e afetivo deste espanto com o universo, a falta de estímulo logo levaria o educador a cair no rotineiro, tornando-se outro tipo de educador.
                Este outro modelo de educador não possui todas as qualidades antes mencionadas em quantidade suficiente, faltando-lhe, ou sendo em níveis baixos em particular, a conexão emocional com seus aprendizes.  Este educador pode então tentar exercer uma instrução distorcida, que mais parece adestramento, esperando que seus aprendizes aprendam pelo poder das repetições, do medo ou outras emoções negativas que impõe equivocadamente. Ao invés de trazer a perspectiva de um mundo novo, de novos horizontes em um assunto, de respostas ou questionamentos mais profundos quando possível este educador traz consigo dogmatismo, regras simplesmente por regras e repetição sem pensamento.

                A arte de educar então não apenas é um conjunto de características desejáveis, mas também uma força de vontade, ou predisposição dependendo da linha do autor, para continuar aberto à vida e suas experiências. Vemos que o educador que tenta adestrar, na realidade se fechou para o dinamismo da vida, procurando na rotina uma contenção e um conforto na conformidade. Em suma este texto tenta mostrar, que sendo parte chamado artístico, parte teoria acadêmica, parte refletindo a maneira que você encara e enxerga a vida, que ser educador não é fácil. Somados aos desafios internos, estão os constantes desafios externos que seus aprendizes lhe trazem, como situações inesperadas, resistências por parte do aprendiz, dificuldades de equipamento e instalações, o que novamente nos leva a necessidade de improviso e adaptação por parte do educador. Logo, podemos concluir que o educador que não é mais dinâmico, flexível e aberto, é o mesmo educador que não mais extrai tanto aprendizado das situações que a vida lhe oferece, e é o mesmo educador que não mais se conecta tanto assim com os alunos. Talvez ele tenha parado de se importar. O que no fim das contas pode se concluir, com certa poesia, é que este eterno aluno acabou de fugir da escola.