"O pensar se manifesta na palavra; A Palavra se transforma em ato; o ato se desenvolve em hábito; e o hábito endurece como caráter." - Buda

"Nós somos as sondas por meio das quais a existência conhece a si mesma."

quinta-feira, 25 de março de 2010

Mente aberta e Pensamento crítico

No último post abordamos o problema de se deixarem valores implícitos para as expressões mente aberta, valor implícito positivo, e cabeça dura,valor implícito negativo, independente de contexto.

Vamos de encontro então as causas que podem ser encontradas em nós, que assumem papel importante no processar de pensamentos, pensamentos estes que em última instância serão a lente através da qual perceberemos o mundo externo, principalmente os padrões de pensamento automáticos.

Por que precisamos analisar os pensamentos e seus padrões para podermos entender por que alguém é cabeça dura ou mente aberta em dada questão?

Tomemos um exemplo. Dada pessoa acredita firmemente que antes do dia do juízo final bíblico, ela será resgatada por anjos celestes. A mesma pessoa no entanto acha impossível um ser humano reincarnar ou vida fora do espaço.
Outra pessoa se identifica com as ciências e acredita que o amor nada mais é que uma série de complexas reações químicas e enzimáticas. E que a existência de uma alma é impossível.

O que estas duas pessoas podem possuir em comum?

A primeira vista não muito. Parecem vindas de contextos sociais diferentes, ou podem ter vindo do mesmo lugar, mas escolheram contextos sociais e crenças diferentes ao longo da vida.

No entanto olhando mais de perto, pode-se ver que ambos são rápidos em dispensar elementos que contrastem com a sua visão de vida, que não podem ser resolvidos sem causar uma dissolução de seus atuais padrões de pensamento.

Os padrões de pensamento, aqueles pensamentos inconscientes que ditam a forma como você reage ao mundo a sua volta, justamente por estarem longe da consciência diária possuem uma força absurda sobre nossos atos.

Mas, o leitor pode argumentar que os padrões de pensamento dos dois exemplos estão claros e óbvios como água. Estão?

Por padrão de pensamento inconsciente, refiro-me a os pensamentos que levaram uma pessoa a se interessar por religião ou ciência,ou qualquer outra coisa em primeiro lugar.

Simplificando então a situação, construirei um contexto hipotético, ou seja infinitas outras possibilidades podem ter ocorrido, sobre nossos dois exemplos.

Exemplo 1 - Homem religioso, com crenças fervorosas que será levado aos céus do dia do julgamento. Desconfia da ciência, o "sobrenatural" é coisa do capeta, a postura quanto a doenças e infortúnios é que "Jesus vai me livrar".

Primeira pergunta. Como era o lar deste homem? Era um lar que desencorajava o livre pensamento? Que impunha regras estritas sob o manto de religiosidade? Era um lar de "certo ou errado" ? Traduzindo, tu fez certo tu serás recompensado, fez errado apanhas ou sofre de alguma maneira? Em nossa tenra infância aprendemos padrões que podem durar toda uma vida.

Por exemplo, digamos que este homem, em sua infância era uma criança normal que fazia coisas de criança. Em um lar religioso, mas com o pai totalmente ausente, e uma mãe que acredita que o errado deve ser corrigido, a força se for necessário.
Esta criança, toda vez que faz determinadas coisas, vê uma outra faceta de sua mãe que a aterroriza: alguém que grita, bate, é agressiva e implacável. Que talvez após isso tudo é tomada pelo remorso e chora. Ver alguém se transformar assim já faria um impacto na cabeça de um adulto, imagine na cabeça de uma criança?

Sem força, sem poder de decisão sobre si, esta criança se vê forçada, e a palavra é forçada, a submeter-se as vontades de sua provedora. Então ela não aprende o julgamento sobre seus atos, e sim que se ela fizer determinadas coisas ela será recompensada ou punida. E ninguém, salvo a galera BSDM, gosta de ser punida. Esse traço de personalidade BSDM por sinal é outra discussão interessante mas fica para outra hora.

Claro que esta criança poderia ter reagido de outras maneiras, mas vamos ficar com esta linha de raciocínio ok?
Então temos uma criança de um lar religioso, para quem o pai é uma figura distante, que surge apenas para o eventual elogio, ou o homérico e memorável esporro ou surra de cinto, este possuindo maior poder de penetração na memória.
Com uma mãe que caso você não faça nada errado ela é legal.
Esta criança então torna-se temente.

A partir daí, já se tem o solo fértil em uma criança com medo de ser punida e de desagradar a outros. Que graças a sua criação com pouco exercício de livre-pensamento, o acha perigoso pois ela ainda carrega consigo o medo de apanhar se desagradar sua mãe, e sua mãe não encorajava estes pensamentos críticos.
E num caso clássico de estocolmo, esta criança ama sua mãe já que muitas histórias infantis e a escolinha primária estimulam o "ame seus pais", "honrar pai e mãe".

Esta pessoa então eventualmente adota a igreja como sua nova "mãe" fato que é possivelmente facilitado pelo lar em questão. Esta pessoa possivelmente terá constantes conflitos internos dilacerantes, pois sua percepção lhe dirá algo sobre o mundo, mas seu pensamento a contradirá. Sua percepção pode dizer "humm está idéia de reencarnação é interessante" ou "Talvez eu devesse ir menos a igreja e ler um livro sobre o corpo humano". Mas outra parte de sua psique, uma mais antiga e potente lhe dirá que a igreja é o que precisas ou então - insira manifestação sanguinolenta de fúria divina -.

É uma pessoa que rejeitará tudo que mãe/igreja lhe dirá para rejeitar, e que foi acostumada desde cedo a por a responsabilidade de suas decisões ou das coisas que lhe ocorrem em ombros alheios, já que nunca foi ensinada a ser responsável por suas ações, e sim a temer fazer ações "erradas". E quem melhor para ser responsável por todas coisas em sua vida, uma pessoa para culpar, que senão alguém já morto há muito tempo? Entra jesus ou qualquer outra divindade.

No próximo post veremos a situação da pessoa número dois.
AVISO: este blog não é contra nenhuma forma organizada de religião. Nem este blog diz que ocorrerá assim em todas as casas religiosas.

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