Nos idos tempos da era do gelo os
humanos eram organizados em pequenas tribos de caçadores-coletores. Por alguns milhares de anos de nossa evolução,
a dieta humana consistia de proteína de origem animal, também conhecida como carne para os menos
bioquímicamente inclinados, sendo esta cozida ou não, alguns insetos (exótico
não?), ovos, e frutos do mar. Os três últimos items da dieta eram sujeitos a
disponibilidade, então basicamente era uma dieta primariamente carnívora.
Dynastes hercules, ou besouro Hércules. Um componente usual da dieta paleolítica. Ou talvez não. |
Esta dieta era rica em gordura, e algumas
estimativas põem o consumo em mais ou menos dez vezes o que consumimos atualmente. Esta
gordura era rica em ácidos graxos saturados, monoinsaturados, Omega-3 e
quantidades balenceadas de Omega-6 e quantidades abundantes de outros
nutrientes solúveis em gordura. Ácidos graxos são as unidades que compõem as
moléculas maiores de gordura, as macromoléculas de gordura.
E não, as gorduras não foram todas criadas iguais.
Fonte de gordura saturada. E de serotonina. E de prazer. |
Dependendo dos ácidos graxos que constituem
a molécula de gordura, teremos diferentes reações fisiológicas do corpo quando
esta gordura for processada. Alguns desses ácidos graxos são desejáveis...
outros, nem tanto.
Mas, basicamente esta era a dieta na era do
gelo. No período Neo-Paleolítico, a idade da Pedra Lascada ou dos Flinstons, marcado
pelo surgimento da agricultura, localizado temporalmente há dez mil anos atrás
aproximadamente, começa a aumentar o consumo de plantas, nozes, sementes e
quantidades limitadas de frutas selvagens, quando disponíveis. O consumo de
gordura era considerado como um prêmio, e continua sendo um bem valiosíssimo,
mesmo nas sociedades caçadoras coletoras atuais.
O consumo de plantas era escasso, pois sem
os métodos atuais de preparo, a quantidade de “anti-nutrientes” tóxicos que as
mesmas possuem sobrepuja seu valor nutricional. E mesmo com os métodos atuais,
o que sobra é um alimento pobre em nutrientes.
Dos
macronutrientes, o único que era consumido em quantidades limitadas é o grupo
dos carboidratos. Tirando os vegetais verdes e frutas selvagens, que
basicamente são representates dos carboidrados fibrosos, boa parte da energia
para as atividades caçadorísticas vinha das proteínas e gorduras. O que é
interessante nessa história é que dos três macronutrientes, carboidratos são os
únicos que não são essenciais. Excetuando-se os carboidratos fibrosos, uma vez
no corpo são “quebrados” em glicose, que é um combustível energético multi-uso.
A glicose nada mais é que um tipo específico de açúcar. Por sinal, o açúcar que
você ingere com seu café enquanto tolera esta leitura também tem o mesmo
destino. Os carboidratos fibrosos passam basicamente indigestos ao longo de
nosso trato digestivo e são excretados. Por vezes fazendo algum prejuízo ao
longo do caminho, mas este é um papo pra outra hora. A glicose pode também ser produzida no corpo
a partir de gorduras ou de proteínas ingeridas na alimentação. Uma vez
“quebrada”, a glicose vinda da alimentação eventualmente chega a corrente
sanguínea, e se os níveis da mesma forem altos o suficiente, os níveis do
hormônio Insulina aumentam para tentar reduzi-los para um nível normal. Isto é
importante. Você precisa ter certa quantidade de glicose no seu sangue o tempo
todo. Se tiver mais, ou menos, o corpo reage com hormônios específicos para cada
uma das situações. A parte não tão divertida, é que níveis mais altos regulares
de glicose no sangue estão associados com um risco 40% maior de morte por
doença cardiovascular. E os níveis de glicose sanguínea estão diretamente
ligados ao consumo de carboidratos na alimentação. Quanto mais você consome
regularmente carboidratos, aquele pão branco, aquele macarrão aos quatro
queijos, mais carboidratos seu corpo se “acostuma” a ter presente no sangue
regularmente após a insulina tentar reduzi-los. Em outras palavras, quanto mais
o seu quarto fica bagunçado ao longo do tempo, mais você tolera certo nível de
bagunça mínima mesmo após arrumar o quarto. Apesar dos tecidos do corpo
utilizarem prontamente a glicose, este não é o único combustível que elas podem
utilizar. Há outro combustível, os corpos cetônicos, oriundos do metabolismo
dos ácidos graxos.
Os corpos cetônicos estão ganhando
popularidade novamente como o combustível natural e próprio da maioria dos
órgãos. Um estudo mostra que crianças epilépticas quando postas em dietas que
induzem cetose, que não deve ser confundida com cetoacidose, (um estado
patológico em que o corpo não consegue regular a produção de corpos cetônicos,
levando a uma acidez generalizada dos tecidos) ,o número de convulsões que estas
crianças sofrem diminui ou até mesmo para completamente.
Os corpos cetônicos são inclusive apontados
como os mais eficientes para o metabolismo do coração, aumentando a eficiência
dos batimentos.
Mas, e toda a história de que gorduras fazem mal ao coração? Se você andar comendo bacon e torresmo você certamente irá "empacotar" cedo!!! Ou não?
Assunto para ser discutido em breve, quando encerraremos nossa série sobre a dieta Paleolítica.
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